Professor Fernando Miranda e sua esposa, Maria do Carmo |
Entrega das lembranças ao homenageado |
“Pretendemos com esta sessão olhar para o passado, identificando e homenageando quem deu um largo contributo ao grupo. O professor Fernando Miranda é um homem que deu muito de si a uma causa que é de todos: a preservação da memória colectiva”, afirmou Ana Cristina Martins, vice-presidente do Conjunto Etnográfico de Moldes.
Intervenção da filha, Maria do Carmo |
Intervenção de Arnaldo Pinho |
Fernando Miranda assumiu a direcção do
Rancho de Moldes em 1954, cerca de uma década após a sua fundação. Tinha apenas
18 anos. “De 1954 a 1977, o meu pai exerceu simultaneamente as funções de
director artístico e presidente da direcção do Conjunto Etnográfico de Moldes.
Um rancho que passou de um pequeno agrupamento folclórico que praticamente se
limitava a cumprir a sua participação anual na Feira das Colheitas para um
rancho com dimensão nacional, com participações regulares nos festivais mais
importantes do país”, salientou a filha Maria do Carmo Miranda.
“O meu pai reuniu em si duas qualidades
intrínsecas às dos líderes: inteligência e carácter. Teve sempre a insatisfação
dos que querem fazer sempre mais e melhor, dos que sentem um enorme prazer
intelectual em exercer o contraditório e transformar em superação o
acabrunhamento pretendido pela má crítica”, enalteceu.
Amigo de longa data de Fernando
Miranda, o padre Arnaldo Pinho também interveio, destacando a sua dedicação
profunda, sentido ético e espírito consensual. “O Fernando deu um importante
contributo à cultura popular regional que é extraordinariamente importante e é
a única que resiste à passagem dos tempos”, realçou. “Esta é uma homenagem
justa, porque é preciso homenagear quem luta e se dedica a uma causa”, afirmou.
Os
feitos do passado e os desafios do futuro
Actuação do Conjunto Etnográfico de Moldes |
Fundado em 1945, o Conjunto Etnográfico
de Moldes tem vindo a realizar um trabalho significativo na defesa da cultura
popular. “A história do Rancho de Moldes é longa e ansiamos que novos capítulos
continuem a ser escritos. O grupo poderia acabar hoje que a sua história e o
seu percurso jamais seriam igualados. Não só pela longevidade que os 70 anos
representam, mas principalmente pelas mudanças estruturais que testemunhou e
que foi superando”, argumentou Ana Cristina Martins, referindo-se à mudança da
ditadura do Estado Novo para a democracia, à emergente necessidade de
salvaguardar as identidades locais face a fenómenos como a globalização e às
transformações da estrutura socioeconómica e cultural da sociedade portuguesa.
Sobre estas e outras transformações discursou
Gomes Ferreira. O ex-dirigente do Conjunto Etnográfico de Moldes evocou os 70
anos do grupo, descrevendo os seus momentos mais marcantes. A passagem de uma
participação pontual na Feira das Colheitas para a participação nos mais
importantes festivais nacionais, o trabalho desenvolvido ao nível das cantas e
dos cramóis, bem como a adopção do traje uniforme que hoje ostenta e que distingue
Arouca ao largo e ao longe foram alguns dos temas abordados.
Intervenção de Gomes Ferreira |
Gomes Ferreira destacou ainda o papel determinante
do Conjunto Etnográfico de Moldes na fundação da Federação de Folclore
Português e da Federação das Associações Juvenis do Distrito de Aveiro, a
organização do primeiro festival de folclore que num curto período ganhou uma
dimensão internacional e a publicação da revista Cultura Popular para assinalar
os 40 anos do grupo.
“Com as primeiras Jornadas de Folclore
de Arouca, em 1986, o mundo das universidades passa a interessar-se por Arouca,
participando na actividade e debatendo o mundo rural. Em 1990, decide-se
publicar os trabalhos resultantes dessas jornadas numa revista, a Rurália, que
foi considerada, ao tempo, a mais importante publicação que reportava ao mundo
rural”, referiu.
Em jeito de reflexão, Gomes Ferreira
questionou: “Como se vai posicionar o Conjunto Etnográfico de Moldes face à
crise do mundo rural, sobretudo numa freguesia com um acentuado envelhecimento
da população?”. “Render-se? Não creio. Não faz parte da sua génese. Ao longo de
setenta anos, soube gerir as crises e até fortalecer-se com elas. Agora não
será diferente, estou certo. A freguesia é o berço do que o que no concelho
melhor se faz, ao nível do folclore, da etnologia e da etnografia”, concluiu.
CD
«A Serra a cantar e a dançar» é “legado para as gerações vindouras”
CD «A Serra a cantar e a dançar» |
Na sessão comemorativa, o Conjunto
Etnográfico de Moldes apresentou o seu mais recente trabalho discográfico, de
nome «A Serra a cantar e a dançar». “Esta gravação assume um carácter de edição
comemorativa dos 70 anos e o nome é uma alusão ao traço identitário que muito
marca o folclore de Arouca – a identidade serrana”, explicou Ana Cristina
Martins.
O CD é o volume 23 da colectânea
Folclore Português, da editora Açor – Emiliano Toste Produções Multimédia, cujo
elemento visual aglutinador é o azulejo. “A imagem de capa é um pormenor de um
dos painéis da Sala do Capítulo do Mosteiro de Arouca”, explicou a
representante da direcção.
Momento cultural com as Vozes de Manhouce |
“A
Serra a cantar e a dançar é mais um legado do Rancho de Moldes. Um registo
que se assume como um elo de ligação entre o passado e o futuro com vista à
salvaguarda da identidade de um povo. Para que não seja esquecida a identidade
de uma serra que sempre cantou e dançou com o brio e a nobreza que lhe são
próprios”, concluiu.
A actuação do Conjunto Etnográfico de
Moldes encerrou a sessão comemorativa. As Vozes de Manhouce protagonizaram
outro dos momentos culturais da noite.
Fotografias de Carlos Pinho