
De facto nisto se distingue o grupo de Moldes, distinção muitas vezes criticada e mal entendida por quem desconhece o trabalho que sustenta tal recolha. No ano de 1954 como já foi dito procedeu-se a uma rigorosa recolha de roupa que podemos situar dos finais do Séc. XIX. Das arcas encoiradas saíram trajos rudes de trabalho o burel e a serguilha, o pano de estopa rija, os tamancos cardados, o rude fato de pêlo de cabra. Mas destes cofres de anteridade e naftalina também saíram as saias negras de armur as finas blusas de linho, as calças pretas, as polainas de bom coiro e fina sola, as chinelinhas de verniz , os lenços de seda os paletós.
O trabalho e a festa. E foi a festa, o caminho para a romaria, o alegre baile campestre onde se procurava namoro de dote, no fim de contas onde se celebrava a vida naquilo que é a sua verdadeira essência. E embora a estratificação social fosse um facto e a distinção se fizesse também pelo que se vestia, pobres e ricos tinham a sua roupa de festa, às vezes um só fato de uma só vida mas que era negro para a mulher, conforme as posses, ornamentado com mais ou menos ouro. O homem mais discreto também vestia roupa melhorada uns dias de ver a Deus ou de se mostrar aos homens.
A opção foi clara e o grupo de Moldes ainda hoje ostenta o traje que o distingue e que conscientemente escolheu e que reproduziu tal qual foi encontrado e que aqui se vai descrever em resumo. As raparigas vestem o trajo preto de romaria com:
Chapéu de Penacho - de aba muito pequena e dobrada para cima paralelamente à copa de
tal maneira que não a ultrapasse na altura, ficando aba e copa tão pouco
distanciadas que dificilmente se lhe pode passar um dedo de permeio. A aba é
coberta exteriormente com fita de veludo que a atravessa transversalmente,
dividindo-se em duas pontas soltas que caem sobre a aba, do lado direito. Do
lado esquerdo, e estendendo-se lateralmente à copa para a parte anterior
fixa-se o penacho ou pluma com farta penugem preta. Era usado descaído sobre a
testa, sem desvios para qualquer lado.
Lenço
de seda - Em regra amarelo, ou de ramagens de cores vistosas é juntamente com o
ouro, o artefacto que dá à mulher o toque de graciosidade, de candura, de cor
que contrasta com o restante vestuário. É extraordinário o partido que a
serrana consegue tirar de um pequeno quadrado de tecido que se dobra em
diagonal e lança pela cabeça, por debaixo do chapéu. A maneira de pôr o lenço
atado atrás, na nuca, por debaixo da ponta livre, prende-lhes os cabelos
emoldurando-lhe o rosto, o que permite obter uma verdadeira composição
estética, realçando-lhe a beleza natural. Era usado também entalado as duas
pontas laterais entre a aba e a copa do chapéu.
Saia - De pano preto lustroso é sempre comprida, a roçar pelos tornozelos, largamente rodada, com o curioso e belo pregueado das ancas e uma larga barra ou faixa de veludo preto forrada por dentro a flanela vermelha. Por baixo desta, as Saias de Baixo e os Saiotes de vários tamanhos e com bordados, tinham por única finalidade engrossar a anca e fazer o rodado da saia de fora, em contraste com a fina cintura, valorizando esteticamente a silhueta feminina.
Blusa
- Branca de linho ou " voile " é rematada no pescoço e nos punhos por
pequenos colarinhos que terminam com adornos de rendas estreitas (em bico de
serra) e são fechadas por botões ou molas.
Paletó
- Sem colarinho, com ramagens e adornos, que lhe enforma o busto é
relativamente curto, mal chegado à cinta. Aperta-se à frente por botões sendo
decorado por fitas estreitas de veludo e vidrilhos na botoeira e punhos, em
regra orlado inferiormente e nos punhos por uma franja de cetim. É revestido
interiormente por riscado de cores mortas. Curioso é esse enfeite natural que
consiste num simples botão de rosa, em regra vermelho, que, pela maneira como é
colocado no peito, do lado esquerdo dá a conhecer ao homem se a portadora
pretende ou não namoro.
Meias
- Brancas de interessantes rendados e as Chinelinhas rasas de biqueira
arrebitada saltitando-lhes no peito do pé, completam este belíssimo trajo.
Acessórios do trajo são os Ouros das grandes solenidades, como o casamento e a romaria. Grossos cordões, corações rendados, grilhões de grandes elos, cruzes de Malta, estrelas, colares de grossas contas, libras rendadas etc., são exibidos ao peito das mulheres das orelhas pendem-lhes grandes arrecadas de ouro maciço.
Trajo
masculino
Sempre muito menos complicado que o da mulher,
compõem-se de Camisa branca de linho sem colarinho, Colete preto com botões
brancos e Calça preta segura na cinta por uma larga Faixa negra terminada em
franja nas pontas. Botas pretas e Chapéu preto de aba larga.
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