Evento
pretendeu divulgar as particularidades do canto popular polifónico
A fotografia de grupo |
A Igreja de Moldes acolheu, no passado
sábado, dia 6 de Dezembro, o «Encontro de Vozes». O evento, organizado pelo
Conjunto Etnográfico de Moldes, teve como protagonista a polifonia tradicional, e reuniu cinco grupos de cantadeiras que se apresentaram organizadas em
contexto associativo ou de forma informal.
Pretendia-se, de acordo com a
organização, que o encontro mostrasse a riqueza da cultura popular e a forma
como o povo usa magistralmente os parcos recursos de que dispõe, neste caso, a
voz. Pretendia-se, igualmente através das vozes, mostrar o vasto património
imaterial que resultou da capacidade do povo de interpretar a sua própria
realidade, resvalando entre o sagrado e o profano.
Grupo de Folclore Terras de Arões |
O espectáculo iniciou-se com as
cantadeiras do Conjunto Etnográfico de Moldes que, a duas e três vozes,
entoaram cantos antiquíssimos de Arouca, falando de coisas simples com uma
solenidade que ultrapassa qualquer singeleza lírica.
Seguiu-se um grupo informal, as
Cantadeiras de Candal. Vindas do concelho de S. Pedro do Sul, de um lugar situado
em plena Serra da Arada e Gralheira, as vozes destas mulheres deram a conhecer
o património e as vivências que a sua aldeia,
marcada pelo escuro da pedra das suas habitações, ainda guarda. Porque lhes sai
da alma, mulheres marcadas pela aridez da vida serrana, cantaram com a
facilidade, simplicidade e nobreza de quem não precisa de quaisquer ensaios
para cantar bem, onde quer que seja.
Cantadeiras de Candal |
Da freguesia de Arões (Vale de Cambra)
chegaram as cantadas, cantarolas e
cantigas, entoadas por cerca de quinze
mulheres do Grupo de Folclore Terras de Arões. As melodias apresentadas no
feminino mostraram-nos que mais não eram que as formas encontradas pelas
mulheres de «antanho» para animar, e até aliviar, a labuta do dia-a-dia, suas
canseiras, seus afazeres.
Seguiram-se as cantadeiras de Souto
Redondo (Urrô) que confirmaram a riqueza da polifonia do concelho de Arouca –
um verdadeiro tesouro. Foram a revelação da noite, por se juntarem (quase) pela
primeira vez para cantar num espectáculo desta natureza. Estas senhoras são a
prova viva de que ainda é possível descobrir, nos dias de hoje, protagonistas
de um saber que parece perdido.
Cantadeiras de Souto Redondo |
Encerrou o encontro o Grupo de Cantares
Tradicionais Mulheres do Minho, de Braga, que deram a conhecer as
especificidades polifónicas daquela região.
Segundo a organização, o balanço é «bastante
positivo porque cumpriu plenamente os objetivos estabelecidos para o evento». «A
estrutura mista dada ao evento, conseguida com a presença de grupos organizados
e grupos informais, conseguiu produzir um espetáculo com uma autenticidade e
genuinidade muito evidente», afirmaram. Acrescentaram ainda que com este
encontro se demonstrou, por um lado, «que a cultura popular tem ícones de uma
beleza extraordinária – como é o caso da polifonia, mas, acima de tudo, que os
grupos folclóricos, enquanto representantes da cultura popular, devem
esforçar-se por mobilizar os verdadeiros agentes conhecedores e portadores de
cultura popular para espectáculos como este».
Grupo de Cantares Tradicionais Mulheres do Minho |
A primeira edição do «Encontro de
Vozes», cujo objectivo foi divulgar as particularidades do canto popular
polifónico, contou com o apoio da Câmara Municipal de Arouca, da Junta de
Freguesia de Moldes, do Instituto Português do Desporto e Juventude e do
Agrupamento de Escolas de Arouca.
Fotografias de Luís Alexandre