sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Canto popular polifónico e comunidades locais em destaque no 2.º Encontro de Vozes

Cerca de sessenta vozes deram corpo à segunda edição do Encontro de Vozes, que decorreu no passado sábado, dia 26 de Novembro, na Igreja de Moldes, em Arouca. O evento, organizado pelo Conjunto Etnográfico de Moldes, teve como finalidade divulgar o canto popular polifónico como “uma das mais nobres manifestações da cultura popular” e mostrar que o «Cancioneiro de Arouca» ainda vive disperso pelas aldeias do concelho, guardado sobretudo pelas mulheres.
Conjunto Etnográfico de Moldes
“Mais do que um espectáculo, o nosso «Encontro de Vozes» pretende alertar e sensibilizar a comunidade para a riqueza da polifonia tradicional e trazer à cena todos e todas que ainda sabem estes cantares”, começou por afirmar um elemento da organização, na abertura do evento.  
O elemento diferenciador foi efectivamente a presença de diversos grupos informais que se impuseram pela sua simplicidade e mostraram o verdadeiro significado de autenticidade. A envolvência das comunidades locais foi desde logo assumida pelo Conjunto Etnográfico de Moldes como um dos objectivos primordiais do evento. Nesta segunda edição do «Encontro de Vozes», essa envolvência tornou-se evidente com a apresentação de um maior número de grupos informais, maioritariamente de Arouca.
Cantadeiras de Cabreiros
Cantadeiras de Ponte de Telhe
A noite começou com as cantas e os cramóis apresentados pelo Conjunto Etnográfico de Moldes. Seguiram-se as Cantadeiras de Cabreiros que, vindas dos lugares de Tebilhão e Cabreiros, trouxeram o que de mais belo a serra soube criar e guardar. Nos lugares de Ponte de Telhe, Bouceguedim, Celadinha e Cela (freguesia de Moldes) também se reuniram algumas cantadeiras. Os seus cantares foram, acima de tudo, o testemunho da história dos lugares de onde vieram e das suas próprias histórias de vida, marcadas pelo trabalho na floresta e pelo minério. 
O Centro Cultural, Recreativo e Desportivo de Santa Maria do Monte, da freguesia de Santa Eulália, fez-se representar com um numeroso grupo de cantadeiras. Além da dinamização de actividades de âmbito cultural, recreativo e desportivo, a associação tem como objectivo preservar e divulgar o património das suas gentes onde se incluem os cantares.
Centro Cultural, Recreativo e Desportivo de Santa Maria do Monte
Seguiram-se as Cantadeiras de Adaúfe, da freguesia de Moldes. Estas cantadeiras são a prova de como o canto popular pode, nos dias de hoje, funcionar como elo agregador de uma aldeia que, à semelhança de muitas outras, assiste à perda das suas gentes. Inspiradas pelo que viram e ouviram na primeira edição do «Encontro de Vozes», estas senhoras de Adaúfe juntaram-se para relembrar os seus velhos cantares, tantas vezes entoados aquando dos trabalhos do campo ou nos raríssimos momentos de lazer.
Cantadeiras de Adaúfe
Grupo de Cantares de Carvalhal de Vermilhas, Vouzela
O Grupo de Cantares de Carvalhal de Vermilhas, de Vouzela, foi o último a apresentar-se. Homens e mulheres fizeram-se ouvir em cantares religiosos e outros que demonstraram a influência que a Serra do Caramulo teve no nascimento daquelas gentes, também muito ligadas ao trabalho no campo.
No final, todos os grupos, público incluído, cantaram a uma só voz alguns «clássicos» do canto popular.
De acordo com a direcção do Conjunto Etnográfico de Moldes, os objectivos estabelecidos para o evento foram atingidos. “Pretendíamos divulgar o canto popular polifónico da região de Arouca e promover a participação de comunidades locais enquanto guardiãs de um património que ainda sobrevive. A verdade é que conseguimos mobilizar grupos informais de senhoras de pontos diferentes da freguesia de Moldes e do concelho de Arouca que, cremos, surpreenderam quem as veio ouvir. Entoadas principalmente no feminino, estas vozes trouxeram-nos histórias, vivências e saberes das artes da fala que infelizmente correm risco de desaparecer”, afirmou a vice-presidente da direcção, Ana Cristina Martins.
No final do encontro a dirigente lançou o repto: “É importante alertar para a necessidade de se preservar este património imaterial. É por isso que estamos aqui. Lançamos, desde já, o desafio à comunidade em geral, mulheres e homens, para que se reúnam e voltem a cantar, para que numa próxima edição sejam eles a estar aqui a mostrar a história das suas gentes e dos seus lugares. Lançamos também o desafio às instituições para que se unam e criem estratégias para salvaguardar e revitalizar aquele que é, efectivamente, um dos patrimónios mais bonitos e significativos que temos. Urge esforçarmo-nos pela sua preservação, para que este património possa chegar às gerações futuras”, sublinhou Ana Cristina Martins. 

Fotografias de Carlos Pinho

Grupos cantam a uma só voz alguns 'clássicos' do canto popular